segunda-feira, 4 de junho de 2012

Por que os estudantes devem se juntar aos professores na greve das universidades federais?

    A greve dos professores das federais, iniciada no dia 17 de maio, se expandiu por todo o País. São poucas as unidades que não acataram a decisão coletiva de greve geral. O motivo que fez o movimento ganhar tal amplitude se encontra no fato do governo Dilma Rousseff desconsiderar as necessidades materiais e educacionais do trabalho docente. É evidente o abuso do governo em manobrar com antigas reivindicações das federais.
    As dificuldades se agravaram desde a implantação dos projetos PROUNI e REUNI. A meta governamental de apoiar o sistema superior privado com subsídios (PROUNI) e expandir o sistema público federal (REUNI) logo expôs sua contradição. O objetivo central da política educacional de Lula foi o de impulsionar o sistema privado. O REUNI, assim, foi concebido como auxiliar dessa diretriz e como uma máscara ideológica à orientação privatista.
    O governo procurou convencer a população e, particularmente, a juventude explorada de que a coexistência entre o ensino privado e público era positiva. Abrir-se-iam vagas nas universidades particulares com subsídios estatais e nas federais com ampliação de unidades e vagas nas já existentes. Os empresários da educação apoiaram essas medidas. Isso porque não viram o REUNI como ameaça aos seus negócios.
    A experiência demonstrou que os empresários se utilizaram do PROUNI para não pagarimpostos e se livraram de parte das vagas ociosas. O REUNI, por sua vez, degradou as condições de ensino do sistema federal.
    A insuficiência estrutural chegou ao ponto de não se ter condições elementares para o funcionamento dos cursos. Como estudar e aprender medicina e enfermagem, por exemplo, sem a prática hospitalar? Não é preciso descrever a calamitosa situação de unidades que não têm o quadro docente completo e que até mesmo carecem de sala de aulas. Os estudantes da federal de Guarulhos/SP estão em greve há mais de 70 dias, reivindicando o elementar do elementar, que é um lugar para estudar.
    Como se vê, a realidade crua e nua se encarregou de revelar os fundamentos da política educacional privatista e sucateadora do ensino público dos governos federal e estaduais. Agora, a greve nacional dos professores das federais completa a desmistificação de que o Brasil está vivenciando o desenvolvimento da educação pública e da inclusão das camadas populares oprimidas. Basta observar que a greve ganhou tal amplitude devido às condições precárias que se generalizaram por todo o sistema federal.
    Não é desconhecida a propensão dos professores em apoiar a política educacional do governo petista. Também é evidente a integração da burocracia universitária às suas diretrizes. Muita ilusão democrática se espalhou nos meios educacionais. A ideia de que é possível reformar as estruturas arcaicas da educação de classe no Brasil, promovendo a inclusão social, os reparos às injustiças raciais, etc. foi e tem sido atrativa aos professores, intelectuais e estudantes. Esse pseudo movimento democrático burguês, porém, se mostrou sem base material e social, por isso ilusoriamente progressista. Vemos que grande parte das organizações estudantis, tendo à sua frente a UNE, se apoiou e se apoia na tese da reforma educacional capitalista inclusiva. É importante que se tenha claro essa trajetória porque demonstra que não faltou apoiou político da principal organização dos estudantes, que conseguiu alimentar as promessas inclusivas.
    É certo que alguns feitos foram apresentados com o PROUNI e REUNI, bem como com as chamadas ações reparatórias e afirmativas (cotas, etc.). Acontece que em pouco tempo a experiência se esgotou. Os dados da inclusão não passam de um pingo em um oceano.
    As tentativas das direções políticas voltadas a concretizar a tese da inclusão dos oprimidos na escola de classe da burguesia esbarraram no elementar do elementar. Está aí por que se agarram a bandeiras como o da “permanência” do pequeno contingente que ascendeu pela via do PROUNI e do REUNI. A greve das federais escancara a falência da política da inclusão social e das ações afirmativas do petismo e seus aliados.
    O governo Dilma se encontra encurralado pela inesperada greve nacional das federais. O movimento se choca objetivamente contra a essência de sua política educacional, que é privatista. Caso pretenda sustentar a ilusória premissa de uma educação popular, terá de despender uma considerável soma de recursos para o sistema federal.
    A reivindicação dos professores é pequena, considerado o tamanho do problema. Estão exigindo uma reestruturação de carreira, prometida por Lula, por meio da qual se melhoraria um pouquinho os salários. Nada que o Estado brasileiro não pudesse resolver de uma penada. No entanto, não o faz porque o governo está premido pelo desenvolvimento da crise econômica. A burguesia exige que faça contenção orçamentária e cortes nas verbas sociais.
    O autoritarismo do ministro Aloizio Mercadante parece ter surpreendido. Mas expressa tão somente o encurralamento do governo, que precisa derrotar o movimento para sustentar a diretriz geral da política privatista.
    Os docentes em greve ainda não se deram conta de que estão protagonizando uma luta em defesa do ensino público e gratuito. A direção do ANDES deveria explicitar que as reivindicações mais elementares dos docentes e estudantes são incompatíveis com o orçamento estatal voltado aos interesses do capital financeiro, das multinacionais e da oligarquia agrária. O risco desse vigoroso movimento está justamente nos seus limites corporativos.
    Os estudantes devem urgentemente entrar em luta apoiando o movimento docente com as bandeiras de ensino público e gratuito, rechaço à política privatista do governo, combate à coexistência do ensino público com o privado, empunhando a bandeira estratégica de expropriação do sistema privado (sem indenização), estatização e constituição de um sistema único, científico, vinculado à produção social e controlado por quem estuda e trabalha.
    Essa tomada de posição já era para ter sido feita. Mas as direções pró-governamentais da UNE constituem um poderoso bloqueio à consciência política dos estudantes sobre a gravidade da situação educacional do País. Trata-se de romper essa trava. O primeiro passo para isso é exigir a convocação das assembleias estudantis para apoiar a greve dos docentes e lançar-se em um movimento unitário pelo ensino público e gratuito.
    Pela vitória da greve nacional das universidades federais!
    Unidade entre professores, funcionários e estudantes, sob a bandeira do ensino público e gratuito!

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