domingo, 13 de setembro de 2009

Assembleia da Anel

Assembléia da ANEL

A Assembléia da ANEL, realizada em São Paulo, na USP, nos dias 12 e 13 de setembro, contou com 180 delegados inscritos (segundo a organização), e mais cerca de 200 observadores. O problema não é só o baixo número de participantes, mas o que está por trás disso.

A ANEL foi fundada como uma entidade a partir da cisão da UNE, numa divisão encabeçada pelo PSTU. Essa política não expressa um movimento dos estudantes, nem de uma fração significativa. É um movimento de correntes políticas. Essa característica da ANEL, de se constituir não a partir de uma tendência entre os estudantes, mas a partir da deliberação de uma fração da vanguarda, marca sua organização e sua política. Neste encontro da ANEL, a forma predominante de indicação de delegados e não de eleição em assembléia é sintoma disso.

A situação de ataques à educação em todos os níveis pelos governos, desde o federal, passando pelo estadual e até em nível municipal, diante de uma UNE burocratizada e governista, porta-voz do governo Lula no interior do movimento estudantil, por si só mostra a necessidade de organização dos estudantes para trabalhar pela unificação e centralização das lutas, de forma a dar-lhe forças para enfrentar os capitalistas e seus governos. Com a UNE ora se omitindo, ora agindo abertamente contra os movimentos estudantis, coloca-se a necessidade de colocar em pé um movimento nacional organizado.

Para isso, seria necessário que se construísse essa organização a partir de uma ampla campanha nas bases. A convocação de assembléias e plenárias de curso nortearia a discussão da realização da ANEL, a participação ou não das entidades de base, e a eleição de delegados a partir da disputa de posições políticas entre os estudantes. Esse movimento poderia resultar numa Assembléia da ANEL com ampla representação (medida não apenas pelo número de delegados, mas pela preparação e pela forma como foram escolhidos) e potenciaria seu papel no sentido de impulsionar a luta dos estudantes, contra a paralisia imposta pela direção da UNE.

Mas o que se viu foi a predominância da indicação de delegados via centro acadêmico, sem sequer informar os estudantes a respeito. Estruturou-se assim um encontro com delegados indicados, um jogo de cartas marcadas.

O que poderia fazer um encontro desse tipo? Referendar as políticas do PSTU para a juventude. Traduzindo: apoiar a constituição de uma frente de esquerda eleitoral com o PSol, apoiar a campanha seguidista da disputa interburguesa do “Fora Sarney”, embarcar no nacionalismo de “o Pré-sal é nosso” e assim por diante.

O movimento estudantil precisa de outro caminho: o de se apoiar nas reivindicações mais sentidas pelos estudantes, que os colocam em choque com os capitalistas, seus governos e políticas, e avançar sua mobilização e os métodos de luta. Organizar e centralizar as lutas estudantis contra o maior intervencionismo e privatização do ensino. Caminhar de forma independente das frações burguesas e das burocracias que as seguem: nada de se enfileirar atrás do “Fora Sarney” – levantar a bandeira dos Tribunais Populares para julgar e punir a burguesia corrupta; nada de seguir os nacionalistas, que pretendem entregar o petróleo e demais riquezas a troco de umas esmolas para saúde, educação e para os bandos capitalistas brigarem por elas em seus governos – exigir a nacionalização de todo o petróleo e estatização sob controle operário de todas as empresas petrolíferas.

O combate à direção da UNE burocrática e governista deve ser travado em todos os níveis. Não se trata de dar uma solução aparelhista para o problema político. A construção de outra entidade, à margem dos estudantes, já se revelou equivocada e faliu com a proposta da Conlute. A formação da ANEL, feita sem um balanço dessa experiência anterior e voltada a arrastar o PSol para a aventura divisionista, não responde ao problema colocado: o de trabalhar incansavelmente pela destruição da direção burocrática e governista da UNE, não apenas construir outra entidade e deixar que a atual direção continue a ter a influência majoritária. É preciso construir um amplo movimento a partir das bases, dentro e fora da UNE, de forma a organizar e centralizar as lutas estudantis, a dar unidade organizativa à vanguarda que desponta nas lutas sobre a base de um programa revolucionário. A construção de uma fração de oposição revolucionária à atual direção da UNE é um passo nesse sentido. O que só pode ser feito a partir de uma ampla campanha junto aos estudantes, apoiando-se nas lutas e nas assembléias e organizações de base, na disputa democrática de posições, na política proletária de independência de classe diante da burguesia, seus governos e organizações.