quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Ao debate de abertura do XI congresso de estudantes da USP

A Gestão Rodas e a luta por democracia

    De 2008 pra cá, demissões, eliminações e processos tornam-se cada dia mais corriqueiros. Assentada num regimento disciplinar da ditadura militar, a reitoria e o governo do estado perseguem todos aqueles que se opõem às suas medidas privatistas, de elitização e precarização da universidade. No primeiro semestre de 2011, a USP assinou um convênio com a polícia militar com o pretexto de garantir a segurança, mas com o real objetivo de perseguir os lutadores. A gestão do reitor biônico Rodas intensificou o avanço repressivo.
    O movimento do fim de 2011, iniciado no dia 27 de Outubro com o enfrentamento entre estudantes e policiais no estacionamento das Ciências Sociais e a ocupação da diretoria da FFLCH, foi o maior desde 2007 e tinha como eixos o fim do convênio USP/PM com a saída da polícia do campus, o fim dos processos administrativos e criminais contra estudantes e trabalhadores, a derrubada do regimento disciplinar instaurado por decreto em 1972 e o fora Rodas. Os estudantes protagonizaram uma ocupação de reitoria que culminou na reintegração de posse feita pela polícia numa operação militar com um efetivo de 400 homens e que levou à prisão 73 companheiros, reforçando a necessidade da luta pelos eixos que o movimento levantava. Foi uma luta dura, que levou milhares às ruas.
    Não bastasse enfrentar a reitoria, o governo e a mídia burguesa, o movimento teve que enfrentar a sua própria direção. Já no dia 27, a direção do DCE (PSol) se colocou contra o movimento quando fez o cordão de isolamento para levar os estudantes abordados pela polícia no estacionamento da Sociais para a viatura da PM. Apoiada pelo PSTU, a direção defendeu e votou contra a ocupação da administração da FFLCH, tentou implodir a assembleia que decidiu por ocupar a reitoria, foi contra a greve imediata no dia 8 de novembro (dia da desocupação da reitoria) e a todo o momento tentou introduzir nos eixos da greve pontos que desviassem a luta para a conciliação com a reitoria, como a política alternativa de segurança, as diretas para reitor e a estatuinte.
    O congresso temático foi construído em resposta à luta do ano passado. A direção do DCE (PSol e PSTU) apresenta a bandeira de luta por democracia como um grande “guarda-chuva” que abarca todas as nossas demandas, que não está em oposição com os eixos que mobilizaram milhares de estudantes no ano passado. É hipocrisia. Na prática, o movimento foi derrotado por dentro dos seus fóruns pela bandeira da democracia. Os eixos e a democracia estavam em lados opostos nas discussões das assembleias e CCA’s no início de 2012. Votou-se um contra o outro. Com o fim da greve em março deste ano, a reitoria pôde continuar com sua caça às bruxas nos moldes da Santa Inquisição e o DCE continua de costas para isso tudo. Uma demonstração de que o congresso está em oposição à mobilização do ano passado é o fato de não haver nenhum preso político na primeira mesa de debate, que trata da luta por democracia e da gestão Rodas, apesar de ter sido levada a proposta às reuniões de organização.
    Defender o fora PM e o fim dos processos implica em choque com a burocracia universitária e em polarizar as posições contra e a favor entre os estudantes. Defender democracia relacionado-a a reivindicações de diretas para reitor e estatuinte não nos coloca em choque com a burocracia nem gera indisposição entre as parcelas que compõem o corpo estudantil. A política do DCE é conciliatória e eleitoreira. Ninguém é contra democracia e ao mesmo tempo ninguém se mobiliza por democracia, porque é abstrato.
    Como é possível discutir diretas pra reitor com centenas de processos políticos administrativos e criminais em curso? É possível discutir estatuinte com a militarização da universidade, construção de torres de vigilância, catracas, expropriação da São Remo e doação do terreno para a polícia? Só é possível com muita cara de pau. É impossível discutir democracia sob as botas da PM e com um processo de expurgo político em andamento. Esse congresso deve rechaçar o tema de democracia proposto pela direção do DCE e transformar-se em instrumento de organização para retomar a luta contra o autoritarismo iniciada no fim do ano passado e abortada pela pelegada traidora que compõe a direção do DCE.

Sobre a proibição da venda de cerveja
    O movimento não deve entrar na polêmica pelo viés moralista que a reitoria impõe à discussão. Não se trata de defender o consumo de cerveja pelos estudantes, mas sim a sua autonomia em ralação à reitoria para decidir sobre isso. O problema da proibição da cerveja está na ingerência da burocracia acadêmica sobre o movimento estudantil, que se dá também com os processos, com a polícia e com o avanço sobre os espaços, como foi o caso do porão da Sociais e do espaço do DCE, entregue de bandeja à reitoria pela direção por deliberação do décimo congresso (2010).


Carta de um ou mais presos políticos

    Como é do conhecimento dos participantes desse congresso, estudantes e trabalhadores dessa universidade estão sofrendo processos administrativos e criminais por manifestarem-se contrariamente à política de destruição do ensino público desenvolvida pelos governos e aplicada na universidade pela burocracia acadêmica. Como os camaradas já notaram, não há nenhum processado político compondo a mesa inicial de debate, apesar de nossos apelos à organização do congresso. A perseguição política sequer está pautada como tema do congresso. Os eixos do movimento do ano passado, que mobilizou milhares de estudantes, foram derrotados nas assembleias pós-greve pela bandeira da democracia. Esse congresso com tema democracia foi construído como resposta contra as bandeiras de fora PM e fim dos processos. A PM ainda está no campus e os processos estão em andamento. Dezenas de novas intimações chegaram para nós na semana passada. E qual a resposta que o congresso vai dar em relação a isso?
    O congresso está sendo orientado pela política da direção do DCE (Psol e PSTU) que desde o ano passado se colocou como freio da luta. Votaram contra a greve, contra as ocupações, ajudaram a reitoria, o governo e a mídia burguesa a difamarem o movimento, contribuindo para construir as condições políticas para a intervenção policial no dia 8 de novembro que levou 73 de nós à prisão. E não podemos nos esquecer que já no dia 27 de outubro de 2011, quando a polícia abordou três estudantes que portavam maconha no estacionamento da FFLCH, a então direção do DCE (PSol) fez um cordão de isolamento para conduzi-los à viatura policial à revelia da vontade dos mais de 500 estudantes que tentavam impedir a ação da polícia.
    Não há como discutir diretas para reitor e um novo estatuto, com estudantes sendo eliminados e trabalhadores sendo demitidos. O DCE tenta estabelecer uma relação de convergência entre os eixos do movimento do ano passado e a democracia, mas de fato viraram as costas para a questão da repressão, desde 2008 quando o diretor do Sintusp, Brandão, foi demitido. Hipócritas! Dizem que a bandeira da democracia é um guarda-chuva que abarca todas as demandas, mas limitam-se em discutir o aumento da participação estudantil nos órgãos colegiados e o voto direto para reitor em detrimento da perseguição política latente.
    Esse congresso deve, como o movimento do ano passado, passar por cima dessa direção pelega e traidora e transformar-se num instrumento de organização da luta estudantil em torno das suas demandas mais sentidas. Fora PM! Fim dos processos contra trabalhadores e estudantes!

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