quarta-feira, 14 de março de 2012

À reunião da chapa 27 de outubro (2)

Significado da saída do MNN da chapa "27 de Outubro"


    O MNN colocou sua posição de saída da chapa 27 de outubro para fazer o apoio crítico à chapa Não Vou me Adaptar (PSol/PSTU). Apresenta como razões: 1) Não permitir a vitória da chapa direitista Reação, apoiada pela reitoria e pelo Estadão; 2) Projetar nas urnas a luta contra Rodas e sua política repressiva, defendendo a unidade da esquerda para combater o reitor.

A política do PSol é a base do fortalecimento da direita entre os estudantes


    Sem dúvida, tem havido um fortalecimento dos setores direitistas entre os estudantes. Mas, ao contrário do que afirma o MNN, não combateremos a direita chamando um falso voto crítico na chapa do Psol/PSTU. A política antidemocrática e conciliadora do PSol, que dirige o DCE, baseada na anulação das assembleias de base e na política de tentativa de amenização das medidas da reitoria/governo, é responsável pelo fortalecimento da direita na universidade, ao levar à desmobilização dos estudantes. A direção do DCE (Psol) tem concretamente ocupado uma posição de direita. A vitória do PSol no DCE por mais um ano levará a um fortalecimento ainda maior da direita entre os estudantes. A responsabilidade do avanço eleitoral da direita se dá no terreno de conciliação da direção do DCE com a burocracia da universidade. Não se pode renunciar a uma chapa que reuniu os combatentes para apoiar uma chapa que trabalhou contra o enfrentamento com a burocracia, o governo e a polícia. Não há dúvida que se trata de lutar contra a direita, mas com um programa e uma política de independência de classe. Se o PSTU e PSOL quisessem derrotar a direita unindo toda a esquerda, então teriam se sujeitado à discussão crítica e se colocado à disposição de uma frente.
    Em relação ao DCE, o PSTU passou de oposição a situação muito antes das eleições. Desde o X Congresso de estudantes da USP, tem atuado como fiel escudeiro do PSol. Chegou ao ponto de agir como seu moleque de recados quando a direção psolista do DCE não conseguia sequer falar em assembleias do movimento. A presença do PSTU na chapa não modifica sua essência, que será a continuidade da política conciliadora do PSol à frente do DCE. Não há nenhum traço progressivo nisso.

O combate a Rodas não se expressará por meio do apoio à chapa PSol/PSTU


    A proposta do MNN significará o abandono de todos aqueles que vêem a 27 de Outubro como a chapa que é a expressão do forte movimento que se levantou intensa e heroicamente em defesa de uma bandeira democrática pelo Fora PM, que expressa concretamente a defesa de uma universidade pública, sem a ingerência da burocracia universitária e nem do governo do Estado. Uma forte tendência de luta se manifestou entre os estudantes, ao redor das bandeiras de fora a PM e fim dos processos. Essa tendência permanece presente, ainda que enfraquecida por uma série de fatores. A chapa 27 de outubro expressa, nas eleições do DCE, a necessidade de remover a atual direção conciliadora e colocar em seu lugar uma direção de luta. A proposta de retirada da chapa 27 de outubro conduz à anulação dessa perspectiva na atual circunstância. Um movimento pode avançar ou recuar, de acordo com a relação de forças, mas precisa manter erguidas suas bandeiras, ou será desintegrado. A retirada da chapa significa na prática a retirada das bandeiras de fora a PM e fim dos processos da eleição do DCE.
    O MNN afirma que é preciso projetar a luta contra Rodas nas eleições do DCE. É claro que as eleições do DCE não podem ser identificadas com a luta contra a reitoria e governo. A disputa da direção política da organização geral dos estudantes se dá em choque contra sua direção, no caso, o PSol, não contra o reitor. Já se repetiu isso exaustivamente e o MNN não compreendeu. Mas analisemos seu argumento. Para isso, é preciso responder: a chapa do PSol/PSTU expressa de alguma forma a luta pelo fora a PM e fim dos processos? Expressa o combate à reitoria? Expressa a mobilização dos estudantes? Os estudantes vêem nela a posição de luta contra a reitoria? Não nos parece possível responder afirmativamente a qualquer uma dessas perguntas. No entanto, vejamos: a chapa do PSol/PSTU não levará adiante uma campanha que busque os votos da ala direitista dos estudantes? Não se apresentará como a chapa que “dialoga” com todos os setores, inclusive com a reitoria repressiva? Não será a chapa que expressará a política de permanência da PM, com caráter humanitário, cidadão? Não representa nas assembleias o setor anti-greve, maquiado com discurso combativo pela chamada “democratização” da universidade? Não é possível responder negativamente a essas perguntas.
    O PSol e seu cúmplice PSTU foram contra todas as medidas do movimento pela expulsão da PM desde o início (contra a ocupação da administração da FFLCH, contra a ocupação da reitoria, contra a greve imediata após a descocupação pela tropa de choque, contra a continuidade da greve). Sua política conciliadora com a reitoria não os coloca numa posição de alternativa de chapa pelo fora PM e Fora Rodas. O fato é que a retirada da chapa 27 de outubro e apoio crítico ao PSol/PSTU será na prática a retirada no processo eleitoral do DCE de ma chapa que expresse a luta que se iniciou no final do ano passado. Isso não ajuda a impulsionar a mobilização, ao contrário.

Qual o sentido prático dessa proposta? É uma questão de "foro íntimo"?


    Nem o MNN acredita que será possível convencer a chapa da retirada e apoio crítico ao PSol/PSTU. A chapa será mantida. A disputa se dará com as forças envolvidas no processo e num quadro dificultado pelo recuo do movimento. As chapas vão disputar os votos dos estudantes e é possível que as chapas mais votadas sejam as da direita e do PSol/PSTU.
    Mas para que serve então a proposta do MNN?
    Já mostramos que a proposta do MNN não tem base material. E é contraditória com sua política anterior, que colocava que a defesa da greve estava em oposição a fazer campanha eleitoral. Agora, para o MNN, a campanha eleitoral se sobrepõe à defesa da greve. O MNN afirma que é preciso projetar a luta anti-Rodas nas eleições, mas aponta o risco de vitória da direita como argumento. Porque sabe que não é possível projetar a luta anti-Rodas através da frente PSol/PSTU. Então esse argumento não passa de um verniz para dar um aspecto “de luta” à proposta de votar no PSol para evitar que a direita vença. Esta é então a verdadeira razão.
     Para a disputa PSol x Reação, a posição do MNN não fede nem cheira. Para que serve então essa proposta? O que tem de transcendente?
    Só resta uma possibilidade: o MNN não quer ter dor de consciência por uma plausível vitória da direita no DCE. Se ela acontecer, o MNN acredita que sua posição o manterá incólume diante do desastre no movimento estudantil. Mas a vida real é muito mais dura do que pretendem os companheiros do MNN.
    É preciso tirar todas as lições do crescimento da direita e dar-lhe a resposta eficaz. A direita será derrotada na USP não com manobras eleitorais. Será derrotada pela mobilização de massa. A mobilização capaz de impor derrotas sucessivas à direção conciliadora e construir uma direção forjada na luta para substitui-la. A possibilidade de perda do DCE para a direita deve ser respondida com o fortalecimento dos setores estudantis dispostos a mobilizar.
    Ganhar a direção do DCE é uma consequência da penetração do programa no seio dos estudantes, e uma parcela significativa reconhece a 27 de Outubrocomo a chapa que defende a expulsão da PM no campus e se coloca contra as medidas fascistas de Rodas. Essa mesma parcela, que não teve força suficiente para aprovar a continuidade da greve na assembléia geral do dia 08/03, mas mostrou sua disposição de luta, e reflete uma tendência mais geral de repressão e resistência dos movimentos no Brasil e pelo mundo.
    A tarefa da chapa é trabalhar para impulsionar essa tendência, enquanto um pólo de independência de classe no movimento estudantil, é consolidar a ação direta com greves, ocupações, passeatas, atos, piquetes etc., como sendo o método de luta que leva a vitória do movimento, que está para além de ganhar de imediato a direção do DCE. A vitória desse movimento vai desmascarar o conteúdo de classe que há por trás dessa escalada repressiva, que a ingerência do Estado é consequência da pressão de frações da burguesia que se beneficiam economicamente com a privatização da universidade.

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