quinta-feira, 15 de março de 2012

Por que debater democracia agora é distracionismo?


    Há situações em que o debate sobre a democratização da estrutura de poder se impõe aos movimentos de estudantes e trabalhadores. Não vivemos um momento como esse: pelo contrário, a expulsão da PM do campus somente se dará pela força da mobilização unitária e radicalizada. Discutir democracia ao mesmo tempo em que a USP permanece em situação de exceção revela-se como distracionismo.
    É falsa a tese de que temos que democratizar a universidade para depois expulsar a PM. É o contrário que se impõe: o autoritarismo da burocracia universitária e em especial do atual reitor interventor Rodas, que por meio do convênio USP-PM permitiu 85 prisões políticas, fechamento da moradia retomada e do DCE e eliminação de 8 estudantes, será combatido com a ação direta: greves, piquetes, passeatas, atos etc. Não pode haver sequer o livre debate sobre democracia sob a repressão policial, processos contra estudantes e trabalhadores, demissão e eliminações. Discutir democracia nesse momento fortalecerá o caráter conciliador, se limitando à discussão inócua de maior representatividade nos colegiados, que na prática permitirá a ostensiva presença da PM no campus.
    Essa discussão pode servir para encobrir o caráter de classe desse convênio, e isso temos de rejeitar. A PM é o braço armado da burguesia, que pavimenta o caminho à privatização e elitização, vide o circular que foi entregue à SPTrans e as catracas nos bandejões, tentando amordaçar todos aqueles que se colocam em obstáculo à essas medidas, que se intensificam porque a burguesia, diante de uma monumental crise capitalista, sente maior necessidade de atacar esse setor, assim como a saúde e a previdência, a fim de criar formas de valorizar seu capital.

O distracionismo da ADUSP


    A ADUSP em um de seus manifestos que trata da presença da PM do campus alega que “A USP, por ser uma instituição pública educativa, tem o dever de garantir as liberdades democráticas, num ambiente que valorize a diversidade de pensamento e ação, incluídas aí a crítica à organização e ao funcionamento dela própria”. Em outro manifesto, alega que “a comunidade deve travar um intenso debate sobre o reflexo da atual estrutura de poder no cotidiano da vida acadêmica, para que a democratização da USP deixe de ser apenas uma palavra de ordem, para tornar-se uma realidade”.
    Enquanto houver uma sociedade de classes, achar que uma universidade poderá garantir a diversidade de pensamento sem que haja uma ruptura do controle da classe dominante sobre ela é uma ilusão. Essa diversidade é subjugada pelas ideias do poder econômico, que entram em conflito com as críticas e as ações que questionam o poder da minoria, porque se tratam de interesses divergentes, que são inconciliáveis. A universidade é burguesa. Não há liberdade de cátedra, não há liberdade de manifestação e organização e a USP, desde 27 de outubro de 2011, com o choque entre os estudantes e a polícia, mostrou o quão vazias são essas alegações.
    Devemos rechaçar qualquer abstração que desvie o movimento das bandeiras e das ações que concretamente colocarão fim à presença da PM. É com greve que os estudantes poderão se organizar e pressionar a reitoria e o governo do Estado saindo às ruas em atos e passeatas, convocando os trabalhadores a se incorporarem a essa luta em defesa de uma educação pública e gratuita, em que todos possam ter acesso. Não é possível discutir democracia sob a dura repressão da PM. Primeiro devemos expulsá-la, somente assim poderemos discutir e deliberar livremente a estrutura de poder na universidade.

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