quinta-feira, 8 de março de 2012

Não pode haver democracia sob as botas da Tropa de Choque
A universidade pública e gratuita depende da luta dos estudantes


Aprovar a GREVE estudantil, trabalhar pela unidade dos três setores, expulsar a PM do campus e por fim aos processos políticos contra estudantes e trabalhadores!



Mitos contra a greve estudantil:



    Mito 1) “O problema da USP é a falta de democracia; é preciso convencer os burocratas e o governo de que a universidade tem de ser mais democrática; depois poderemos então tirar a PM do campus.” Sem dúvida, a USP é a universidade mais autoritária do país. É dirigida por um interventor do governo estadual e seus organismos burocráticos não contemplam nem mesmo a LDB, que estabelece uma porcentagem de 70% aos professores e o restante para estudantes e funcionários. Preserva um regimento disciplinar elaborado pela ditadura militar em 1972, que proíbe e pune até com eliminação qualquer mobilização, e restringe até a roupa feminina.
Mas a ausência de democracia não será resolvida através do “diálogo” com os autoritários marionetes do governo estadual. Somente a mobilização pode impor a democracia aos aprendizes de ditador. A democracia universitária só pode existir se for possível a total liberdade de expressão e manifestação. O oposto do que existe na USP hoje. A presença da polícia para reprimir os movimentos impede qualquer possibilidade de que se manifestem as divergências. Somente com a expulsão da PM do campus será possível dar um passo real no sentido da democracia universitária.
Por isso, é uma fraude a proposta de que é preciso democracia para depois tirar a PM. Os farsantes que a proclamam na prática defendem a permanência da PM no campus. E a prática é o que prova a verdade.

    Mito 2) “Os estudantes não querem greve, basta ver os resultados das assembleias de curso. A defesa da GREVE JÁ é vanguardismo.” Na verdade, os cursos realizaram assembleias representativas, em que se os estudantes se mostraram divididos quanto a greve imediata. Uma grande parcela dos estudantes votou pela greve já. Não se trata de uma proposta de uma pequena vanguarda descolada das bases, como acusam alguns mais politicamente míopes. Existe uma tendência entre uma parcela significativa dos estudantes que está disposta a se mobilizar contra a ingerência externa sobre a universidade através da repressão policial, está disposta a defender a autonomia universitária e a universidade pública e gratuita, que estão sob ataque da reitoria e do governo Alckmin. A aprovação da greve estudantil numa assembleia geral massiva pode influenciar os resultados das assembleias de curso e voltar a dar força à mobilização, como ocorreu em 2011, em que os estudantes de base, contra a vontade e a política das direções da maioria dos CAs e do DCE, contra a campanha da mídia, contra essas tremendas pressões, se levantou e gritou: FORA A PM DA USP!!

    Mito 3) “Ainda está muito no início do ano. Vamos CONSTRUIR a greve. Vamos votar um INDICATIVO de greve”. As aulas começam e não se pode permitir que seja apresentado um clima de normalidade na USP. O clima de exceção foi instaurado não pela greve estudantil, mas pelas seguidas intervenções policiais da Tropa de Choque no interior da universidade, numa frequência que supera a dos tempos da ditadura militar, sob o comando do governo Alckmin e de sua marionete, o reitor-interventor Rodas. É preciso responder a essa ofensiva imediatamente. A repressão instaurada serve para abrir o caminho das medidas que virão: o reitor que usa e abusa dos métodos do fascismo pretende impor uma série de medidas privatistas e elitistas. Ou se luta com toda a força para expulsar a PM do campus, ou virão medidas tais como tarifação do circular (a entrega à SPTrans e sua privatização são o primeiro passo); taxação da moradia; majoração dos preços do bandeijão e exclusão dos funcionários; maior restrição à entrada no campus; catracas nos prédios; e por aí vai... Contra tudo isso, não é possível estrangular o movimento levando-os aos intermináveis indicativos de uma greve que não se constrói de verdade. A forma de construir a greve é defendê-la onde é possível colocá-la em pé e expandindo-a para as demais unidades.

    Mito 4) “Os estudantes querem participar das coisas através de plebiscitos; as assembleias são chatas e demoradas”. O movimento de massa se organiza através de assembleias não por uma disposição administrativa brotada de um intelecto. As assembleias são criações do movimento para se organizar e decidir o que se faz de forma democrática. Não existe nem vai existir mobilização que não se organize com o método da assembleia. Ela serve de instrumento de organização, de mobilização, de debate de propostas, de deliberação democrática e de ação, pois quem decide também põe em prática. Os plebiscitos ou votações são instrumentos da democracia representativa, onde se delega a alguém a tarefa de agir. Por isso, só levam à passividade do ato individual de fazer uma opção entre propostas que são elaboradas por outros, sobre as quais não se pode interferir. Por isso, a relação colocada é a de que o plebiscito está para a passividade assim como a assembleia está para a mobilização. As decisões do movimento devem ser SEMPRE tomadas em assembleia.

    Mito 5) “Para que se possa defender a greve, é preciso que se satisfaçam algumas premissas, pré-estabelecidas, dentre elas: primeiro é preciso ver qual é a decisão dos cursos; depois, qual é o número de votantes na assembleia”. O esquematismo é inimigo da mobilização. A luta se organiza e se desenvolve de forma dinâmica e variada. As greves podem nascer de poucas unidades e se espalhar; podem nascer fracas e se fortalecerem com seu desenvolvimento; podem expressar a maioria em assembleias pequenas; podem estar descoladas das bases em assembleias representativas; podem nascer de assembleias gerais e depois crescerem nas bases. Tudo isso já se viu aqui na USP. É preciso sempre observar quais são as tendências concretas entre os estudantes. Não o que a imprensa diz que são. Não o que os professores dizem que são ou mandam fazer. Não o que alguns dirigentes prepotentes procuram ditar. Mas o que os estudantes realmente sentem e expressam. O que o movimento de 2011 disse é que existe sim uma tendência muito profunda entre os estudantes, capaz de superar o boicote das direções estudantis, superar a pressão da imprensa burguesa reacionária, superar os mesquinhos interesses de aparelho de direções sindicais velhacas; superar todas as previsões e colocar em pé um movimento de massa de caráter político de defesa democrática da autonomia da universidade contra a ingerência repressiva do governo. Essa tendência de luta entre os estudantes superou inúmeros obstáculos para se expressar e o fez assim mesmo. É preciso confiar nessa tendência e impulsioná-la, ficar ao lado dela contra o reitor-interventor e o governo. É por isso que é preciso defender a GREVE JÁ na assembleia geral de estudantes da USP.

Pela autonomia universitária



    O movimento estudantil se levantou em 2011 não por reivindicações imediatas, tais como contratação de professores, defesa da permanência estudantil etc. A mobilização foi pela expulsão da PM da universidade e fim da perseguição política movida através de processos contra estudantes e funcionários. O conteúdo dessa luta é o da defesa da autonomia universitária. Não da autonomia de uma casta burocrática que manda na universidade, do seu poder de fazer o que bem entende com os recursos públicos. A universidade hoje praticamente já não tem autonomia, porque a ingerência do governo é tão grande ao ponto de indicar diretamente o reitor. A casta burocrática que a dirige é comprada pelo governo e poder econômico para agir em seu nome e defender seus interesses. Ainda assim, as frações burocráticas se dividem, entram em atrito e muitas vezes emperram os interesses do governo e da burguesia. Por isso é que, diante da necessidade de criar meios de valorização artificial do capital usando a universidade, o governo vem agindo no sentido ampliar a ingerência externa. Os decretos do então governador José Serra em 2007 tinham esse propósito, mas foram emperrados pela mobilização estudantil (greve e ocupação da reitoria). A gestão de Rodas/Alckimin procura retomar esse caminho, dosando as medidas de acordo com as forças para aplicá-las. A ofensiva repressiva tem o objetivo de abrir o caminho para as futuras medidas de quebra da autonomia e de privatização/elitização que estão por vir. A luta dos estudantes adquire assim um caráter político, de choque contra a política geral do Estado.
    A real autonomia universitária é aquela em que os que estudam e trabalham discutem e decidem sobre os rumos da universidade, sem nenhuma ingerência dos governos e poder econômico sobre ela. Cabe aos governos apenas o financiamento, que deve ser deliberado pelos que estudam e trabalham em sua assembleia geral universitária. É para essa perspectiva que devemos apontar nosso movimento. A organização das assembleias gerais e da greve é um passo nesse sentido.

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