quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Suicídios? Nota da Corrente Proletária Estudantil

Suicídios? Nota da Corrente Proletária Estudantil

Na semana passada dois incidentes chamaram atenção do CRUSP: duas aparentes tentativas de suicídio. Uma de um estudante que subiu nos andaimes, usados para montar a árvore de natal, e ameaçou se jogar. Este foi contido por um bombeiro, que conseguiu agarrá-lo. A segunda de um estudante de Geofísica que caiu do seu apartamento do quarto andar do bloco F. Segundo declaração de sua namorada, o ocorrido foi um acidente e não uma tentativa de suicídio. O rapaz foi levado ainda com vida para o HU. Independentemente destes casos terem sido de fato tentativas de suicídio ou não é de conhecimento geral que o Crusp é um local de manifestação desta ação contra própria vida. Os acontecidos só trouxeram mais uma vez esta questão à tona.

A assistência social ficou chocada com o incidente do Crusp, tendo inclusive o Superintendente da SAS/Coseas, Waldir A. Jorge, ido à reitoria aos choros. Uma grande hipocrisia. Afinal é ela quem aplica uma política de perseguição, repressora, que faz cobranças acadêmicas acima da já exigida pela universidade, ameaça os moradores com a retirada da moradia e das bolsas alimentação caso não tenha um ótimo desempenho acadêmico, que retira à força as estudantes com filhos, dentre várias outras atrocidades. No mesmo dia do incidente no Crusp, a Coseas decretou que uma mãe, moradora “irregular” do bloco F se retirasse até o meio dia. Não a retirou a força, pois poderia haver um “segundo” suicídio no mesmo dia, desta vez por culpa explícita da SAS/Coseas. Além disso, é ela quem “incentiva” o aconselhamento psicológico e o uso de remédios antidepressivos .

De outro lado, a Amorcrusp chamou uma reunião para esta segunda-feira com pauta “depressão e problemas psicológicos no CRUSP”. Nela reconheceram que o Crusp é um local propício para os suicídios, pois há uma grande pressão acadêmica (da universidade e da assistência social), um grande isolamento, dentre outros fatores, e disseram que era preciso realizar um ato. Mas as resoluções ali tiradas, por força de sua maioria apertada, levavam à linha de atuar no sentido do tratamento psicológico, individual e não da luta política contra as mazelas aqui escancaradas. Fez aprovar, por um voto de diferença, a posição de que eram necessárias mais assistentes sociais, para que fosse possível acompanhar mais de perto cada morador, quando a linha deveria ser de desmascarar a SAS/Coseas. Das duas uma: ou desconhecem totalmente a função da Coseas, que atua no Crusp para calar o movimento político e que tem em suas mãos relatórios da vida privada de todos, ou fazem coro conscientes com sua política. A nova gestão, que assumirá nesta quarta-feira, mostrou que tem contradições em sua composição. O ato, que ainda não foi marcado, será organizado na quinta-feira, junto a um panfleto sobre a discussão feita na reunião. O empenho da Crusp Popular para com o ato e para com a política de “tratamento psicológico profissional” mostrará qual é sua linha predominante.

O importante é entender as raízes deste problema. A pauta elaborada pela Amorcrusp oculta o problema social do suicídio, individualizando-o e o definindo como “problemas psicológicos”. Não se trata de ignorar as condições psicológicas individuais que levaram à tamanha violência contra a própria vida, mas sim de compreender as condições sociais que as alimentaram. Ficar na superfície do fenômeno, sem entender as raízes do problema, inviabilizará realizar uma luta efetiva. A raiz geral é a sociedade capitalista, que se divide entre explorados e exploradores, entre opressores e oprimidos, com suas manifestações particulares, como a opressão sobre estudantes que não têm como estudar sem a moradia da universidade. Todas as outras explicações, que buscam uma resposta na análise psíquica individual, devem ser rechaçadas. Não é por obra do acaso que as tentativas de suicídio na USP são recorrentes no Crusp, onde se encontra o setor mais empobrecido da universidade.

Cabe a nós cruspianos lutarmos contra a opressão social. Isso se manifesta de maneira mais imediata na luta contra as ameaças de despejo, seja por não cumprimento da quantidade de créditos mínimos estabelecido pela SAS/Coseas, seja por perseguição política, na luta contra o corte de bolsas por mérito acadêmico, na luta por mais vagas, que garanta o direito à educação. É através dessas lutas que colocaremos concretamente ao conjunto dos estudantes a necessidade de um combate às raízes do problema, apontando o método da ação direta, com independência em relação à SAS/Coseas. Essas lutas parciais deverão servir como experiência para elevação política e apontar para lutas mais gerais contra o sistema de exploração do trabalho, que supere o capitalismo explorador e construa a sociedade sem explorados e exploradores, sem opressores e oprimidos, a sociedade socialista.

Reunião de gestão, reunião aberta ou assembleia?

Na segunda-feira ocorreu uma “reunião aberta”. Durante seus encaminhamentos ficou clara a confusão da definição do fórum: a reunião aberta era uma reunião de gestão ou uma assembleia? Nem uma, nem outra. Era simplesmente uma reunião aberta de moradores. Ou seja, não definia a posição da Amorcrusp, nem a posição dos moradores do Crusp, definia sim a posição dos presentes. Toda a crítica que foi feita à Retomada, da qual fazemos parte, de supostamente querer tomar decisões a partir de um pequeno grupo e não se basear no conjunto dos moradores se desmorona com a prática da atual gestão. Defendemos que era necessário chamar uma assembleia com esta pauta, pois é necessário um posicionamento dos moradores do Crusp. A reunião de quinta-feira, da comissão que escreverá a nota sobre a discussão da reunião, marcará uma assembleia sobre o tema, com a concordância da gestão da Amorcrusp.

Devemos sempre ter bem claro quais são os fóruns e as instâncias do movimento. Tudo que traga confusão política é prejudicial. É papel da Amorcrusp deixar límpido e claro a função dos fóruns que convoca. É claro que uma reunião para discutir um tema tão importante quanto esse é importante. Mas não podemos transformar uma reunião de discussão convocada com antecedência em assembleia só por mera vontade dos presentes, como cogitou a gestão. A assembleia requer uma convocação, com divulgação da pauta, para sua realização. Devemos ter cuidado para não atropelar as instâncias do movimento, pois isso apenas joga contra qualquer mobilização e a construção do movimento massivo e com força política.

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