terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Retirada de linhas de ônibus: é necessário responder com luta!

Retirada de linhas de ônibus: é necessário responder com luta!

Os estudantes da USP-Butantã que utilizam transporte público para acessar o campus foram surpreendidos no final do ano com novos obstáculos. De acordo com o Jornal do Campus (Ed. 404 - dez/2012), quatro linhas que ligam a Cidade Universitária e a zona norte foram alteradas pela SPTrans. A 177P, saindo de Santana, teve seu ponto de partida alterado para a Casa Verde e o de chegada para o Metrô Butantã. Isto é, exigirá pegar um dos circulares para chegar até a Cidade Universitária. As medidas são tão arbitrárias que se indica como alternativa em alguns casos a 908T/10 (Term. Pq. Dom Pedro II – Butantã), que sequer entra no campus. A linha 107T/10 (Metrô Tucuruvi – Cid. Universitária) foi alterada e agora irá apenas até pinheiros, ou seja, além de ir para longe do campus, fica longe até dos circulares. As linhas 177H/10, 177P/10 e 701U/10 não prestarão mais serviço aos domingos.

Política de Rodas para o transporte na USP: superlotação, privilégio às empresas privadas, exclusão da população empobrecida da região

Todas essas alterações, no entanto, ainda permanecem sem maiores esclarecimentos, inclusive sobre de quem partiu a iniciativa. Em conversa com trabalhadores condutores, ouviu-se muito falar que teria partido do reitor Rodas, informação que carece de confirmação, afinal, a reitoria ainda não se pronunciou a respeito. Há a expectativa de que novas linhas possam ser modificadas, com a perspectiva de restarem apenas os circulares realizando o atendimento ao campus. Nenhuma consulta a estudantes e trabalhadores, nem aos moradores do entorno, foi realizada.

Tratam-se de medidas que, sob o pretexto de aumentar a segurança da comunidade universitária, visam a beneficiar a empresa Gato Preto, que tem a concessão dos circulares BUSP e recebe da USP pelos estudantes transportados, aumentar a restrição e o controle do acesso. Estão em conformidade com outras anunciadas anteriormente, a exemplo das propostas de cancelas duplas, torres de observação e catracas. A rejeição da construção de uma estação de metrô dentro do campus foi uma opção realizada dentro do mesmo espírito. Portanto, os ataques recentes não são casos isolados, compõem uma política consciente, de conteúdo elitista e privatista. Do ponto de vista da implementação, revelam o autoritarismo da reitoria, a qual, se não foi a autora formal das propostas, certamente as encabeça.

Falamos em elitismo, pois tem sido sistemática a ação da burocracia universitária no sentido de dificultar o acesso da população pobre à cidade universitária, em particular da São Remo. Sabemos da violência cotidiana da Guarda Universitária e da polícia aos moradores dessa comunidade. Assim como não ignoramos a violência policial que se pratica nas periferias e demais espaços da cidade e do país. Enquanto isso, as academias e setores de classe média e alta têm permissão para circular livremente. Com tudo isso, o campus permanece ermo e inseguro, revelando assim a demagogia do discurso de “proteção ao cidadão”.

A presença da polícia no campus responde, na verdade, ao objetivo de conter a atuação política dos movimentos sociais que se organizam na universidade. Exemplos disso são muitos, como em 2009, quando a PM foi chamada para dissolver os piquetes de greve dos funcionários, desencadeando uma forte mobilização de estudantes e trabalhadores pela expulsão da polícia. No final de 2011, depois do fatídico 27 de outubro, quando houve o conflito no estacionamento da FFLCH, desencadeando um importante processo de luta, a própria existência da instituição policial foi questionada. Somados às ações sobre a Cracolândia, o massacre do Pinheirinho, os incêndios criminosos de favelas etc., tais fatos acabam desnudando uma política higienista e reacionária, encabeçada pelo governo do estado (PSDB).

Falamos também em privatismo, já que de fato o caráter público da universidade é colocado em xeque diante das medidas tomadas pela burocracia que governa a USP. A progressiva substituição dos ônibus circulares da universidade pelos circulares da SPTrans, na verdade da empresa Gato Preto, é uma demonstração disso. A terceirização só favorece as empresas de ônibus. A ligação entre o terminal Butantã e o campus, que é positiva, foi uma manobra utilizada para desviar a atenção da terceirização, facilitando assim sua implementação, e possibilitar a retirada das demais linhas que entram no campus. O resultado foi a piora do atendimento e a exclusão de todos que não são estudantes ou trabalhadores efetivos, que não possuem o BUSP e agora têm que pagar para usar os circulares, antes gratuitos para todos.

Ainda sobre a questão da privatização, vale ressaltar que as restrições do acesso servem também aos interesses das academias e grandes marcas esportivas, que lucram com a utilização do espaço público, ao mesmo tempo em que os moradores da São Remo, por exemplo, são sistematicamente hostilizados e expulsos do campus. Em todas as situações que narramos, o CRUSP tem sido um dos maiores afetados, bastando aqui a lembrança das restrições de transporte aos domingos, da mesma forma que os eventos esportivos na avenida da raia olímpica, que além do barulho, provocam inumeráveis distúrbios para os moradores do conjunto residencial.

Será necessária uma grande campanha para reverter cada um desses ataques. A gestão do DCE já realizou uma petição pública, que reuniu por enquanto mais de 5 mil assinaturas e foi protocolada na reitoria. Em nota publicada em seu site, a direção estudantil afirma que protocolou também “um ofício que exige uma reunião em caráter de urgência do DCE com a reitoria e a COCESP para esclarecer a questão”. Diz ainda que exigirá explicações da SPTrans. Todas essas iniciativas consideramos válidas, mas insuficientes. Precisamos de saídas organizativas que possibilitem maior discussão entre os estudantes, em conjunto com os trabalhadores (inclusive os terceirizados, que são os mais prejudicados) e que abram caminho para manifestações públicas, massivas e unitárias, de pressão política.

Tendo em vista essa necessidade, incorporamos a proposta levada à reunião ordinária do DCE pelo centro acadêmico do curso de História (Cahis), de uma assembleia do campus Butantã a se realizar na semana da feira do livro, já que este é um evento que costuma atrair muitos estudantes à Cidade Universitária. Certamente haveria um ônus em convocar um fórum a essa altura, com a maioria já tendo entrado em período de férias. Contudo, pior seria não convocá-lo, pois o longo intervalo das férias tende a arrefecer a indignação despertada pela retirada das linhas. Levamos a proposta ao CCA (Conselho de Centros Acadêmicos) do dia 09/12, mas a maioria dos CAs a rejeitou, apoiando-se nas justificativas dadas pela direção do DCE.

Resta agora manter de pé a campanha, especialmente no CRUSP, que permanece parcialmente habitado durante as férias, e também preparar a agitação e propaganda a se realizar desde a recepção dos ingressantes-2013. Para derrotar a reitoria, SPTrans e governos, conquistando a volta das linhas de ônibus e a reversão de cada uma das medidas elitistas e privatistas, estudantes e trabalhadores deverão se unificar num grande movimento, buscando alianças com setores de dentro e de fora da universidade, fazendo uso do método da ação direta (passeatas, greve, ocupações etc.).

Por uma campanha de luta contra os processos políticos sobre estudantes e trabalhadores!

Os relatórios finais das Comissões Processantes já estão nas mãos da Reitoria e é provável que ainda este ano ela decida sobre as penas de cada um das dezenas de processados, a exemplo do que aconteceu no fim do ano passado, quando 8 companheiros foram eliminados, vítimas da perseguição política implementada pela reitoria e governo. É mais um ataque ao movimento que se anuncia. O conjunto dos estudantes precisa ser convocado a defender seus companheiros. O argumento de que a USP está esvaziada não pode servir de desculpa para não se fazer o chamado aos estudantes. É necessária a convocação da assembleia geral para nos prepararmos de forma coletiva e organizada. Quem deve decidir se vem ou não na assembleia e porque são os próprios estudantes em resposta à convocação.

Apenas a mobilização dos que estudam e trabalham é capaz de pôr fim a essa inquisição. Durante a greve de um ano atrás, quando os estudantes protagonizavam grandes manifestações de rua, a reitoria não ousou dar início ao processo de expurgo. Esperou que esta fosse abortada para começar a dar seus pulos. Não nos enganemos: a gestão do DCE que aí está compõe o principal grupo político responsável por atuar entre os estudantes e extinguir seu ímpeto de enfrentamento. Te sido um obstáculo político do movimento e precisa ser pressionado a convocar os estudantes, coisa pela qual não tem mostrado, na prática, nenhum interesse.

Moradia a todos.
Não aos despejos do alojamento do CRUSP.

Todos os anos, centenas de calouros solicitam vaga no CRUSP. Algumas dezenas conseguem moradia emergencial e ficam no alojamento coletivo à espera do resultado do processo seletivo. Mas a realidade da falta de vagas no CRUSP é tamanha que uma importante parcela dos alojados fica sem a vaga definitiva. E todo final de ano é colocado o terror àqueles que não conseguiram a vaga e permaneceram no alojamento.

Este ano, a assistência social (SAS/Coseas) deu prazo até o meio dia de 8/12 para que os estudantes que estavam no alojamento deixassem os quartos. O argumento é de que os espaços serão reformados e que precisam ser liberados para os calouros de 2013.

No dia 5/12, a assembleia do CRUSP tirou apoio a estes estudantes e deliberou por um grupo de trabalho (GT) para organizar ações em sua defesa. A primeira ação era a de os estudantes não saírem do alojamento. O GT foi então à SAS/Coseas e comunicou que não sairiam. Até o presente momento, os estudantes permanecem nos alojamentos.

As vagas no CRUSP são um meio de garantir o direito à educação. Está é a função da permanência estudantil. A tarefa que está colocada na ordem do dia é a de exigir da SAS/Coseas a vaga definitiva imediatamente para todos que estão no alojamento. Mas esta luta não deve para por aí. Todos os anos, centenas de estudantes ficam sem a vaga. Por isso, é preciso generalizar essa luta na defesa de vaga para todos. E a recepção dos calouros de 2013 será um momento crucial nesta luta geral.

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