quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ao 1º debate pré-congressual da USP

O movimento estudantil deve dar todo peso à luta contra a repressão!

    Os movimentos de estudantes e trabalhadores da USP estão sob forte repressão, com vários lutadores sendo processados e ameaçados de eliminação. Essa onda de ataques da reitoria tem por objetivo eliminar toda forma de resistência aos planos de sucateamento, elitização e privatização da universidade pública. Trata-se da manifestação de uma tendência geral de intensificação da repressão que se observa em todo o país, inclusive em outras universidades, como a Unifesp-Guarulhos, mas também nas obras do PAC, Pinheirinho e Cracolândia. E não só no Brasil avança o terror sobre as organizações das massas: a crise econômica obriga os governos e as burguesias nacionais a conterem, com o uso da violência, os protestos radicalizados dos oprimidos.
    Desviar os estudantes da tarefa de combater essa onda repressiva é um equívoco grave. A proposta da atual gestão do DCE (Não Vou Me Adaptar), de que o XI Congresso de Estudantes da USP tenha como tema a democratização da universidade, assume justamente esse caráter distracionista. Isso porque coloca em segundo plano o combate à repressão em nome de uma campanha abstrata em torno da “democracia”. O que os grupos que compõem a diretoria da entidade estudantil (PSol e PSTU) não responderam ainda é como democratizar a universidade com a presença da PM, com Rodas e a ingerência do governo do PSDB. Na verdade, sequer dá pra debater com ampla liberdade a questão das estruturas de poder sob essas condições.
    Não é por acaso a escolha de um tema tão genérico numa conjuntura de tamanha agudeza dos ataques que vêm da reitoria. O que se pretende é evitar os choques naturais derivados das reivindicações de fora PM e fim dos processos, que compuseram o eixo da mobilização do final de 2011 e começo de 2012. E o PSol e o PSTU ainda podem posar de combativos, pois sem dúvida a estrutura de poder da USP é uma das mais reacionárias do país. Ou seja, se apóiam numa necessidade real para, colocando-a na hora errada, tirar o tema da repressão do foco. Assim, acabam por desarmar politicamente os movimentos e justamente num momento tão crucial.
    Justificam a decisão por dar centralidade à questão da democracia com o argumento de que é necessário “dialogar com todos os setores”. E acusam os que dizem algo diferente de serem sectários e vanguardistas. Na verdade, se apóiam nos setores desmobilizados para frear qualquer tentativa de avanço no sentido de generalizar as reivindicações que levam ao choque com os setores conservadores, abafando também as iniciativas de utilização do método da ação direta (greve, piquetes etc.). E o fazem se colocando em oposição aos que já conquistaram uma consciência crítica e se colocam em movimento.
    Isso tudo porque os laços com suas respectivas bases são frágeis, baseados no culturalismo, nas festas e relações pessoais, sendo a discussão política um tanto secundária na aproximação de seus contatos. As estratégias impregnadas de eleitoralismo dessas correntes políticas colocam a necessidade de agrupar o maior número de pessoas (leia-se votos) na frente da necessidade de mobilizar os estudantes.
Em outras palavras: não podem e não querem chamar suas bases à luta, porque a relação que constroem no cotidiano não é condizente com uma ação política radicalizada, embora possam manter seus discursos mais à esquerda. Querem preservar os votos que recebem nas eleições para as entidades estudantis, além de pensarem nos votos que podem angariar para seus partidos, ainda mais em ano eleitoral. Os setores mobilizados, esquecidos e até combatidos por tais organizações, geralmente já não lhes dão seus votos.
    Nós, da Corrente Proletária, rejeitamos essa linha política. Não é possível “dialogar com todos os setores”. A sociedade em que vivemos é dividida em classes antagônicas, a burguesia e o proletariado, com interesses irreconciliáveis, e essa divisão se expressa também no interior da universidade. A burocracia universitária age como correia de transmissão dos interesses da classe dominante, sendo seguida por frações dos três setores (estudantes, professores e funcionários). Não precisamos de muitos exemplos para demonstrá-lo, basta lembrar o almoço de membros da chapa Reação com o reitor-interventor Rodas. Isto é, há setores com que não devemos “dialogar” e sim combater.
    No entanto, há um amplo setor que oscila ou mesmo permanece indiferente aos acontecimentos políticos no interior da universidade. A acusação do bloco PSol-PSTU de sectários teria algum fundamento se virássemos as costas a essas camadas intermediárias. Mas, não é essa a nossa conduta. Enquanto o referido bloco prefere se apoiar nos setores desmobilizados contra os lutadores (que agora sofrem com a repressão), nós optamos pela via contrária. As mobilizações multitudinárias, mesmo as mais espontâneas, não brotam do vazio. Geralmente começam por certas camadas ou setores onde as condições são mais graves e o nível de organização precedente facilita o levante.
    As greves da USP dão lições exemplares nesse sentido, especialmente a do ano 2000. Na ocasião, os estudantes da FFLCH e ECA foram capazes de construir um movimento de toda universidade, paralisando até a Poli. Algo semelhante ocorreu em 2002, na greve da FFLCH de mais de cem dias, com o curso de Letras arrastando os demais.
    A manifestação do dia 16 de maio, que reuniu mais de 500 pessoas e conseguiu adiar os depoimentos dos estudantes que estão sendo processados, provou que ainda há resquícios daquela disposição de luta que presenciamos na última greve. Ou seja, revelou que o refluxo vivido pelo movimento não é absoluto e que a gravidade dos acontecimentos (processos) pode nos permitir reverter o quadro. Devemos realizar uma grande campanha, dentro e fora da USP, em defesa dos processados e contra toda forma de repressão aos lutadores. Para isso, temos de aproveitar todas as oportunidades para paralisar as aulas e projetar nossa luta ao conjunto da população com as manifestações de rua.

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