terça-feira, 27 de novembro de 2012

Resultado das eleições para a Amorcrusp 2012-13

O que o resultado das eleições para a Amorcrusp mostrou:

Necessidade de retomar a luta

Há uma parte significativa dos moradores descontente com a política conciliadora com a SAS/reitoria das ultimas gestões. Sem um trabalho e organização prévias, foram convocadas reuniões públicas para que se formasse uma chapa de oposição, baseada num programa elementar de defesa das reivindicações, métodos de luta e democracia estudantil. Poucos dias de campanha, limitada por um teto de gastos, com uma comissão eleitoral declaradamente aliada à CRUSP Popular, inclusive manifestando apoio a essa chapa durante a condução da mesa dos debates entre chapas, foi suficiente para que se abalasse o controle da atual direção. Houve um crescimento da participação nas eleições, disputa real de posições e polêmica. A atuação das gestões conciliadoras (agora CRUSP Popular) causou estragos na disposição de luta dos moradores do CRUSP, reduto de outras lutas no passado recente. Mas bastou uma iniciativa para despertar novamente um sentimento de luta.

A votação expressiva da chapa Retomada mostra que há condições políticas para se constituir uma oposição organizada, que atue diante dos problemas da moradia e trabalhe para que a ação coletiva cresça e ganhe força necessária para enfrentar a SAS/reitoria/governo. O que depende de se projetar também para o conjunto do movimento estudantil, apesar da atual direção do DCE imobilista.

CRUSP Popular X Pra frente CRUSP: pequenas diferenças

A direita manejada pela SAS/reitoria teve medo da vitória da Retomada, e renunciou em meio às eleições em favor da CRUSP Popular. O que indica que entre elas a diferença é de grau, não é de essência. A essência é que ambas não têm independência política e organizativa em relação à SAS/reitoria. É possível que parte da vitória da CRUSP Popular se deva ao apoio da direita. O episódio provou que existe uma oposição avessa entre a Retomada e as outras duas chapas. A vitória da CRUSP Popular, apoiada pelos setores direitistas, a empurrará ainda mais para a conciliação com a SAS/reitoria, em oposição às necessidades mais sentidas pelos moradores.

Essa política submissa à SAS/reitoria ficou explicita em um dos debates, em que essas duas chapas defenderam o diálogo com a burocracia como método para se conseguir alguma melhoria. A Pra Frente CRUSP chegou a defender que a associação “não é capaz de andar com as próprias pernas” e por isso é necessário “pedir” à SAS que ajude os moradores. A CRUSP Popular defende que o método da ação direta e a democracia estudantil, com base nas assembleias, defendidos pela Retomada são radicais e autoritários e por isso “não aglutinam”, sendo preciso dialogar, ouvir quais são as demandas dos moradores. Falácia! A principal reivindicação dos moradores é a defesa da própria moradia e a CRUSP Popular abarca integrantes da antiga gestão que não moveu um mísero dedo para organizar a luta em defesa da Amanda e seu filho de um ano que foram ELIMINADOS por lutar por moradia!

Rechaço à Assembleia! A substituição da ação coletiva pela ação individual

A promessa da CRUSP Popular, de fazer as assembleias quando necessário, serve de pretexto para não convocá-las, afinal é a gestão quem decide a necessidade ou não delas. Cabe à oposição atuar organizadamente nas reuniões de gestão e pressionar para que se convoquem as bases a decidirem através das assembleias e tomarem em suas próprias mãos a resolução dos problemas, confrontando a SAS/reitoria com a força da mobilização.

A assembléia não pode ser apenas fruto da mobilização, como defende a CRUSP Popular, mas parte constitutiva e impulsionadora dela. Há a imposição de um condicionante nessa defesa: somente se convoca a assembléia se houver mobilização. A Crusp Popular se nega a convocar as assembleias, pois não há interesse em organizar o movimento, mas sim de abrir um diálogo com a SAS/Coseas e evitar um choque dos estudantes com a burocracia.

Não é de seu interesse organizar e agir coletivamente, por meio dos fóruns democráticos, pois dessa forma corre-se o risco de se perder o controle sobre os moradores, permitindo que estes se levantem e quebrem o íntimo diálogo com a SAS/Coseas. Esse tal diálogo pressupõe conter as mobilizações, pois estas se chocam com a política elitista e privatista implementada pela burocracia.

Vitória da CRUSP Popular: o continuísmo da zeladoria e do tarefismo

A vitória da CRUSP Popular significa a continuidade de uma direção imobilista. O CRUSP é um gigante adormecido para luta, fruto de várias gestões que, em conjunto com a burocracia, calaram os moradores. A PM sitiou o CRUSP durante a ação de guerra de reintegração da Reitoria em 2011, retirou estudantes da Moradia Retomada, que culminou na eliminação de 8 deles. O CRUSP foi alvo da guarda universitária e da PM que apontou uma arma na cabeça de um estudante negro durante a ação que lacrou o DCE com tapumes. Mais recentemente: Amanda é eliminada. Diante disso o CRUSP não foi capaz de se levantar e enfrentar essas duras repressões.

A zeladoria e o tarefismo das direções, que defendem que os moradores se aglutinam em torno de empréstimos de filmes, livros e supostamente manter a associação aberta a quem quiser levar individualmente suas queixas, são práticas que encobrem uma política aparelhista e oportunista. Estão na contramão da política revolucionária, que defende uma direção de luta, de enfrentamento da burocracia/governo, que são os responsáveis pela depredação do ensino público e do privatismo, e que por isso tem interesses inconciliáveis com a maioria estudantil. A unidade dos moradores se dará em torno das reivindicações gerais do CRUSP, a começar pelo direito à própria moradia como parte do direito à educação. A política da CRUSP Popular é oposta a mobilização, e por isso serve à política da SAS/Coseas, que a cada dia aumenta o controle e a vigilância sobre os moradores, cada vez mais amordaçados.

Necessidade de se constituir uma direção de luta com base num programa

O desempenho da chapa Retomada não deve esconder que falta construir uma direção de luta. Uma direção se constrói sobre a base de um programa, uma compreensão comum da realidade, e as respostas que se dá a ela sobre a base da experiência coletiva. A Corrente Proletária vai trabalhar em defesa desse programa, e assim ajudar a construir essa direção. A Amorcrusp voltará a ser de luta a partir do momento em que esteja em pé essa direção, que só se construirá a partir da ação coletiva.

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