terça-feira, 14 de julho de 2009

Manter a greve e barrar a repressão!

A direção do DCE (PSTU) levou o movimento estudantil ao impasse, mas não podemos nos desmobilizar


A greve dos funcionários da USP acabou sem o reajuste salarial (obteve apenas a reposição da inflação de 2008) nem a readmissão de Brandão e o fim dos processos e sindicâncias. Conseguiu brecar momentaneamente a ameaça de demissão dos 5214 funcionários, e mais alguns itens sociais (reajuste no vale-refeição, auxílio educação especial).

A greve dos professores terminou sem nenhum item negociado. O reajuste da inflação de 2008 foi concedido antes da greve docente.

A assembleia dos estudantes votou pela continuidade da greve, contra a posição da direção do DCE (PSTU) e seus aliados (PSol). Esta direção utilizou na última assembleia o argumento da “unidade” com os outros setores para tentar aprovar a volta aos aulas, sendo que quando os estudantes ainda não haviam aderido à greve dos funcionários nem cogitaram isso – unidade pra frear o movimento? Não! A unidade entre os setores tem que ser pra impulsioná-lo!

Teve influência na decisão de manter a greve o fato de terem chegado a 15 estudantes intimações de processos por causa da ocupação da reitoria de 2007. Mas, mesmo com essa decisão da assembleia geral, direções de CAs defenderam e aprovaram na maior parte dos cursos em greve a volta às aulas. Houve pressão de docentes para que a greve fosse interrompida: no curso de Artes Cênicas, professores chantagearam estudantes, que se abstiveram na assembléia de curso e com isso venceu o fim da greve, ainda que com poucos votos.

A direção do DCE veio ao comando de mobilização (em 07/07) propor uma nota afirmando: “a luta continua no 2º semestre”, mais os informes das assembléias de curso, que decidiram pelo fim da greve. Um claro golpe na decisão da assembleia, de continuidade da greve. Chegaram a propor que não se incluísse nesse informe o título “a greve continua”. Contra essa proposta, defendemos que a nota fosse encabeçada pelo chamado “a greve continua”, pelo calendário de mobilização e pela descrição das novas medidas de ataques aos estudantes e funcionários (processos). Ao ser derrotada pela votação no comando, o PSTU propôs que se adiasse a assembléia de 14/07 para… 20/08! Dada a rejeição de sua proposta de atropelar a assembleia e adiá-la para 20/08, a direção do DCE simplesmente se levantou e sequer encaminhou o ato público de 9 de julho aprovado na assembleia.

No dia seguinte à reunião do comando, na comissão de mobilização, novamente surgiu a proposta de não colocar no título do informe a palavra greve, que dessa vez venceu no sorteio, após um empate na votação. A comissão também definiu as faixas para o ato de 9 de julho e ficou de encaminhar para os estudantes ainda naquela noite o texto do informe e o aviso sobre o horário e local do ato, que seria já no dia seguinte às 8h30 no Ibirapuera.

Diante da sabotagem da direção, esse ato se esvaziou, com pouca presença. A assembléia de 14/07 terá de responder ao impasse criado pelo boicote da direção do DCE às decisões coletivas.


Por que a direção do DCE tenta frear o movimento?


A raiz da posição da direção do DCE está na sua submissão às decisões do Fórum das Seis (dirigido pela Adusp) e na política eleitoreira de evitar o choque entre estudantes grevistas e não grevistas e entre estudantes e professores. Primeiro, ao se negar a lutar pela convocação da assembléia geral universitária e admitir que as decisões fossem tomadas nas assembléias de cada setor, acabou se submetendo na prática às decisões dos professores. Por isso não poderia ter defendido a greve antes que a Adusp a declarasse.

Segundo, a defesa da greve estudantil levaria a conflitos: entre os estudantes grevistas e não grevistas de um lado; entre estudantes em greve e professores sem greve, de outro. Esses conflitos são parte do processo de mobilização, os setores mobilizados são obrigados a pressionar os setores não mobilizados para fazerem com que o movimento seja geral e as decisões tomadas pela maioria em assembleia sejam respeitadas. Mas isso certamente leva a perder votos dos setores atrasados, que rejeitam a pressão do movimento e as ações coletivas deliberadas nas assembléias. O PSTU não queria se desgastar com setores conservadores que o ajudaram a conquistar o DCE. Por isso, teve de se colocar sistematicamente contra qualquer medida que implicasse a greve estudantil independente da greve docente. Só defendeu a greve após a deliberação de professores (e ainda assim dentro do cálculo eleitoreiro, já que a presença da PM no campus fez com que comparecessem massivamente à assembleia estudantes favoráveis à greve, com os quais o PSTU também não gostaria de se desgastar), e passou a atacá-la imediatamente após a volta atrás dos mesmos professores.

Durante a ocupação da reitoria deste ano, não se cansou de chamar o fim do movimento. De antemão, afirmava que os estudantes não o apoiavam. Nem os funcionários. Que dizer dos professores.

Na manifestação de 09/06, quando perdeu a votação para voltar para dentro do campus, dividiu o movimento e levou uma parte de volta, deixando a maioria numa posição enfraquecida em relação à repressão. Pouco depois, o grupo que havia mantido a decisão tomada foi atacado pela polícia, quando voltava para o interior da universidade, atrás do setor que foi puxado pelo PSTU.

Antes da greve, nos cursos em que dirige o CA, como na Física, defendia sistematicamente a não greve. Os mesmos diretores que iam às assembleias gerais e defendiam deixar a decisão para os cursos, quando falavam nas assembléias de curso, defendiam deixar a decisão para as assembléias gerais. Diante da greve parcial, o PSTU se negou a organizar comandos de mobilização e piquetes para ir às unidades em aula para pressioná-las a se juntar ao movimento.

A posição de seguidismo do PSTU à Adusp e ao Fórum das Seis colocou o movimento estudantil como avalista das decisões dos outros setores. Isso levou à divisão da organização do ato na Assembléia Legislativa por mais verbas para a universidade. Enquanto o Fórum das Seis pretendia realizar um lobby parlamentar, os estudantes queriam ação direta contra a reitora. Diante da inexistência de um organismo comum que pudesse resolver a questão, cada um foi para seu lado, e tudo fracassou. Sem a realização da assembleia geral universitária foi impossibilitada a unidade real dos três setores.


Fortalecer o movimento e barrar a repressão!


O movimento, apesar das direções, avançou quando foi às ruas denunciar a repressão de Serra/Suely contra os que estudam e trabalham. Colocar milhares na Avenida Paulista e Brigadeiro Luís Antônio e ocupar as capas dos jornais foi importante na luta política contra a reitoria e governo. Mas o movimento se limitou a isso: ao protesto.

A pressão do final de semestre, com suas provas e trabalhos finais nos cursos em que não houve greve, e o esvaziamento geral da universidade contaram a favor da desmobilização. A falta de força do movimento para expulsar a polícia obrigou os funcionários a aceitarem a chantagem da reitora e desmobilizar os piquetes. O enfraquecimento do movimento o levou ao impasse. A reitora impôs os termos do fim de greve aos funcionários e desconsiderou os professores. Certamente está por trás das cartas que receberam os estudantes em relação à ocupação de 2007. Ou seja, a reitoria retoma a ofensiva repressiva imediatamente.

O movimento estudantil tem de se contrapor à ofensiva repressiva, ou ela aumentará. Os fatos já mostraram isso nos últimos meses.

A continuidade da greve só pode manter perspectiva se apontar o combate sem trégua à repressão da reitoria e do governo, ligando esta luta às demais reivindicações do movimento.

Seria um grave erro desviar as atenções dos que estudam e trabalham para propostas distracionistas como a da Estatuinte. E é o que pretende a direção do Fórum das Seis para o segundo semestre, no que já está sendo seguida pela direção do DCE (PSTU). O movimento estudantil deve rejeitar essa farsa e se colocar pela mobilização, o que tem como pressuposto acabar com a submissão dos estudantes e funcionários aos professores. Isso se faz com a realização da assembleia geral universitária, que deve ser soberana e pôr em prática suas resoluções, coletivamente.

Além disso, a continuidade do movimento depende da realização de atividades antes do início do segundo semestre. A repressão não tira férias! Continua atuando sistematicamente e se aproveita do esvaziamento para atacar individualmente os militantes que sofrem processos. Devemos realizar um ato em frente à reitoria contra a repressão e os processos e sindicâncias sofridos por estudantes e funcionários! A PM pode não estar mais ocupando ostensivamente o campus, mas continua presente com viaturas. Os processos internos e também na polícia continuam correndo. A repressão não está parada, não podemos nos desmobilizar!


Por um ato contra a repressão em frente à reitoria antes do início do segundo semestre!

Pela reorganização do Comitê Contra a Repressão!


Reunião aberta da Corrente Proletária Estudantil

- discussão sobre o movimento de greve -

Quinta-feira (23/07) às 19h no DCE Ocupado


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